segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Leia trechos da nova biografia do atacante Neymar

Leia trechos da nova biografia do atacante Neymar

Neymar tem apenas 22 anos, mas sua vida já foi exposta em alguns livros biográficos. A próxima biografia a chegar às livrarias é "Neymar - O último poeta da bola", do jornalista italiano Luca Caioli, que será lançada no Brasil no mês que vem. O livro terá uma edição de 4 mil exemplares e custará R$ 29,90.
 Autor de 13 livros sobre esportistas, como Zidane, Cristiano Ronaldo, Ronaldinho, Lance Armstrong, Andre Agassi e Lionel Messi, Caioli afirma que escolheu Neymar como personagem porque o brasileiro é o representante do mais puro futebol brasileiro.
"O cineasta italiano Pier Paolo Pasolini disse uma vez que existem dois tipos de futebol em eterna contradição. De um lado, o futebol-prosa, praticado pelos europeus -ele falava principalmente do catenaccio italiano. E do outro lado, o futebol-verso, praticado pelos brasileiros. Para mim, Neymar é um representante digno desse futebol bonito, futebol-arte que os brasileiros sempre praticaram. Comecei a escrever em outubro de 2012, quando essas qualidades já eram conhecidas no mundo todo", conta Caioli. 
Para escrever a história de Neymar, Caioli veio ao Brasil e visitou locais frequentados por Neymar e sua família. O jornalista, entretanto, não conversou com o craque do Barcelona ou com o Neymar pai. "Não, eles se recusaram a dar entrevista. Mas eu até prefiro. As biografias que faço não são autorizadas. Se fossem, me tirariam a liberdade."
Leia trechos inéditos do livro "Neymar - O último poeta da bola": 

"Neymar da Silva Santos chega ao União Mogi em 1989. Tem 24 anos. Nasceu em Santos em 7 de fevereiro de 1965, filho do meio de Berenice, dona de casa, e Ilzemar, mecânico. Tem um irmão, José Benício, o "Nicinho", e uma irmã, Joana d'Arc, a "Jane". Cresce futebolisticamente no juvenil do Santos e, com dezesseis anos, vai para a Portuguesa Santista, onde se torna profissional. A partir daí, começa uma peregrinação por vários clubes, todos modestos: o Tanabi, na região de São Paulo, o Iturama e o Frutal, ambos de Minas Gerais. No Sudeste do país, Neymar contrai tuberculose e se vê obrigado a parar por um ano para repousar. Decide deixar o futebol e voltar a trabalhar na oficina mecânica de seu pai, mas recebe uma oferta do Jabaquara, um clube histórico da Baixada Santista. Embora seu pai não veja a proposta com bons olhos, Neymar aceita: de segunda a sexta, trabalha como mecânico e, nos fins de semana, joga. Enfileira quatro boas atuações, uma delas em um amistoso contra o União Mogi. Dulcídio Wanderley Boschilla, árbitro do jogo, o recomenda aos dirigentes do Mogi, que parecem estar interessados. Após a primeira reunião com o jogador, o enviam em seguida para treinar com a equipe. Após o segundo jogo, Neymar assina contrato com José Eduardo Cavalcanti Teixeira, o "Ado", então presidente, para uma temporada, até o final de dezembro de 1989. "Naqueles tempos, o salário não era grande coisa", como recorda Pintado, "nosso patrocinador era a UMC, Universidade de Mogi. Nos pagavam uns 350 reais por mês, mas dava para viver bem."
Após vários anos mudando de uma cidade para outra, de um vestiário para outro, Neymar encontra a tranquilidade em Mogi. Brilha em campo e faz um bom campeonato na Divisão Especial, a ponto de atrair a atenção de vários clubes da região. Os diretores do Rio Branco, uma equipe de Americana, pequena cidade do estado de São Paulo, ficam impressionados com a atuação de Neymar contra sua equipe no antigo estádio da Rua Casarejos (hoje, no local, encontra-se o Mogi Plaza, um centro comercial). Querem-no a todo custo. O Rio Branco precisa de um atacante para reforçar o plantel para o ano seguinte, quando buscará e conseguirá o acesso para a elite regional, depois de obter o vice-campeonato na Divisão Especial. Os dirigentes fazem uma boa oferta, e Neymar está prestes a aceitá-la. É uma oportunidade que não pode deixar escapar. "Ele precisava do dinheiro para ajudar a família. Queria comprar uma casa para seus pais, que moravam na Baixada Santista", lembra hoje Moacir Teixeira, o ex-tesoureiro do União. Neymar diz isso em alto e bom som aos diretores do clube, que não têm nenhuma intenção de perdê-lo. "Era nosso melhor atacante, uma pessoa excelente que merecia colher os frutos de tudo que havia plantado", afirma Moacir que, na época, junto com outros nove sócios do União, organiza uma coleta para cobrir com o dinheiro de seu próprio bolso a oferta do Rio Branco. Um documento com dez assinaturas, datado de 21 de dezembro de 1989, sacramenta o acordo. O grupo de investidores fecha com Neymar e garante sua permanência no Mogi. O valor da transação é de 100 mil cruzados novos, 10 mil para cada signatário. "Sem interesse", enfatiza Moacir, "sem tirar disso nenhum benefício econômico." A cifra equivale a atuais 55 mil reais, um montante de dinheiro respeitável para a época. Por fim, Neymar pode comprar uma casa para sua mãe, em São Vicente, e ainda se permite adquirir um carro. Acredita estar rico, mas as reformas econômicas e financeiras do Plano Collor vão levar as suas economias. Durante o primeiro semestre do ano, joga com o União, mas no segundo, como o clube não disputa nenhum torneio, vai para o Coritiba, o Catanduvense e, enfim, para o Lemense.

Pensa em formar uma família. Em 1991, aos 26 anos, se casa com Nadine Gonçalves na igreja de São Pedro o Pescador, em São Vicente. Os dois se conhecem desde que ela tinha dezesseis e ele dezoito anos, e era uma promessa da Portuguesa Santista.
Em 5 de fevereiro de 1992, nasce em Mogi das Cruzes seu primeiro filho, às 2h15. A bolsa da mãe estourou no dia anterior e ela foi levada à Santa Casa de Misericórdia, um grande edifício azul e branco que se destaca entre as ruelas do centro da cidade. O parto é natural e não tem complicações. A mãe e o recém-nascido, que pesa 3,780 quilos, estão bem. Até o momento do nascimento, os pais não sabem que se trata de um varão: o preço do ultrassom estava além de suas possibilidades. O primeiro a cuidar da mãe e do filho foi o doutor Luiz Carlos Bacci, já falecido, e em seguida Benito Klei. Este dá alta à mulher e ao pequeno. Sabe que o bebê é filho de um jogador do União, time para o qual torce, mas somente anos mais tarde, relendo a certidão de nascimento, se dará conta de que ajudou no parto do craque do Santos.
"Naquela época, Neymar Júnior ainda não tinha um corte moicano, era difícil de reconhecer", diz, brincando, o coordenador do setor de ginecologia e obstetrícia da Santa Casa. O encarregado de levar para casa a família Da Silva Santos foi Atilio Suarti, o fisioterapeuta do União. Neymar pai telefonou para ele e pediu para ir buscá-los na maternidade.
Mas qual será o nome do bebê? Os pais estão em dúvida quanto a que nome dar a seu primogênito. No primeiro momento, Nadine sugere "Matheus", e o pai concorda. Testam por uma semana, mas não ficam convencidos e, finalmente, quando Neymar pai vai registrá-lo no Cartório, muda de ideia e opta por seu próprio nome: "Neymar", com o acréscimo de "Júnior", embora todos na família o chamem de "Juninho".
Neymar pai vira o volante, tenta desviar e acelera, mas está com a quinta engatada e não consegue evitar a batida. O outro veículo colide em cheio contra o automóvel e na altura da porta do motorista. A perna esquerda de Neymar termina no lado direito, e o quadril e a bacia também se deslocam. Ele não pode se mexer. Está desesperado e diz para a esposa que vai morrer. Ambos olham para o banco de trás: Juninho não está. Acreditam que o impacto tenha jogado a criança para fora do carro. Temem tê-lo perdido para sempre. Neymar pai roga a Deus para levá-lo, mas para poupar Juninho. O carro está à beira de um precipício. Nadine não pode sair por sua porta porque cairia barranco abaixo, por onde corre um riacho. Um, dois carros param para ajudá-los. São essas pessoas que encontram Juninho debaixo do assento. Está coberto de sangue. O terror dos pais aumenta. Uma ambulância os leva para o hospital mais próximo. Lá, o pai reencontra a esposa e o filho. Nadine, afora algumas escoriações, não sofreu nada grave. Segura nos braços Juninho, que usa uma grande bandagem na cabeça. O sangue não passava de um corte na testa, causado por um caco de vidro da janela.
Neymar não teve a mesma sorte: ele luxou a bacia. É uma lesão grave. Precisa ser operado com urgência. Dez dias de recuperação no hospital, depois quatro meses de cama, sujeito a um aparelho infernal que o mantém suspenso. Ficará quase um ano sem poder jogar, um ano de consultas médicas e de exercícios de reabilitação e fisioterapia, com a ajuda de Atilio Suarti e Antonio Guazzelli, o massagista do União. Um acidente grave que marca para sempre a carreira futebolística de Neymar pai. Quando retorna aos gramados, não é mais o mesmo, mas não pode deixar de jogar: é o seu trabalho, o seu ganha-pão.
A bola, a redonda, sempre foi o seu amor, o seu objeto de desejo, e ele sempre teve uma paixão avassaladora pelo instrumento do futebol, tanto que em maio 2012 afirmará: "A bola é a mulher mais ciumenta que existe. Se você não der carinho, ela vai deixar de te amar e pode te prejudicar. Eu a amo com paixão". Demonstrou isso desde pequeno. Nadine, sua mãe, se lembra de quando, com apenas dois anos, enquanto ela comprava batatas no mercado, Juninho soltou sua mão e atravessou a rua correndo o risco de ser atropelado para pegar uma bolinha de plástico amarelo. E recorda – como em muitas ocasiões contou o próprio Neymar – que seu filho dormia abraçado com a bola. Anos mais tarde, chegará a acumular em seu dormitório até 54 delas. Não era o quarto da criança, e sim das bolas, a ponto de Juninho ter que se espremer em um canto da cama, devido à grande quantidade de gorduchinhas empilhadas sobre o cobertor.


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